domingo, 25 de setembro de 2016

Palavras ao vento




O Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora, regista a expressão «palavras, leva-as o vento», com o significado de «o que se diz e não é escrito esquece facilmente».
Curiosamente, não é apenas o que não é escrito que é facilmente esquecido: também as palavras de amor tantas vezes ditas e repetidas foram facilmente esquecidas.
Já passou mais de um ano desde que partiste. Ao longo deste tempo, fiz por aceitar o que aconteceu, apesar de haver muitas coisas que não entendo. Tentei ignorar N coisas, pessoas, acontecimentos. Fiquei em silêncio não por te ter esquecido, mas para respeitar o que foste, quem foste. Porque apesar de haver coisas que se passaram e decisões que tomaste que podem parecer contraditórias, todo este tempo que já passou permitiu-me refletir sobre isso e hoje entendo por que te afastaste de quem amavas, não querendo ser um "peso" para ninguém, concedendo a quem amavas a liberdade para voar sem ti. E como deve ter sido doloroso abdicares de quem amavas... Como deve ter-te dilacerado dizer "Vai!", quando querias dizer "Fica!"... Como deve ter-te magoado ver que te deixaram no chão quando, no teu coração, sonhavas voar bem alto com quem rapidamente te esqueceu...
Na tua generosidade, se agora pudesses falar-me, dir-me-ias que estou a ser muito dura com quem partilhou contigo sonhos e projetos, dir-me-ias que foste tu a única responsável por ficares só. Mas eu sei que quem ama verdadeiramente reconheceria todo o desespero que havia em tudo o que escrevias, mesmo nos textos em que parecias mais otimista e com projetos de novos caminhos. 
Dói-me que já não vivas, mas, há factos que vou descobrindo que me levam a concluir que ainda bem que não podes ver como é curta a memória de quem amavas. Tão curta que não teve quaisquer dificuldades em deixar que se reaproximasse alguém que se tinha intrometido na vossa relação e que quase vos separou... Tão curta que, não sendo suficiente permitir essa reaproximação, ainda a trata por "minha linda" ou "meu anjo"... Como me enojam estes tratamentos delicodoces, a burrice de quem não tem memória, de quem parece não se lembrar das táticas de engate de gente mentirosa e manipuladora que sabe usar as palavras. Tretas! Tanto aquilo que dizem e/ou disseram como quem o diz/disse e quem acredita nisso. TRETAS!!!